A qualidade de vida no trabalho no século XXI
Redação
As relações entre trabalhador e patrão estão longe de serem pacíficas. Ambos os lados acusam o outro de inflexível e injusto há séculos. O empresariado, visando o lucro exponencial, e o proletário, buscando condições cada vez mais salubres para o ambiente que exerce sua profissão. A legislação sobre o assunto é relativamente recente, pois antes era o caos em termos de saúde da classe mais baixa. Há relatos de empresários que possuíam noções de qualidade de vida no trabalho, mas a ideia predominante era a imagem de que se tem a mais-valia predatória, e não importa se o trabalhador morre, adoece, faz uma carreira sólida, o importante era atingir a meta de produção. São grandes irresponsabilidades no tocante ao limite a vida. Isso é apenas uma das engrenagens que movem a lógica capitalista inserida na economia global há séculos. Marcos internacionais surgiram na área, como a fundação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. A questão trabalhista é abordada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela ONU em 1948, que, entre outras garantias básicas, nos artigos 23.3 e 24 estabelece que todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social e todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. No Brasil, em 1943, o presidente, Getúlio Vargas aprovou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que garantiu e regulamentou diversos benefícios em solo tupiniquim. Para tratar sobre qualidade de vida no trabalho, a Revista Digital AdNormas conversou com a professora doutora Ana Cristina Limongi-França, professora titular da Universidade de São Paulo FEA/EAD e especialista no assunto. A docente também participou da fundação da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), criada em 1995. Ela é membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ). Temas como o contexto de tecnologia no meio de trabalho e reforma trabalhista foram abordados. Limongi será uma das palestrantes do V Seminário ABQ Qualidade Século XXI – A Era da Transformação, no dia 6 de novembro na Fiesp, em São Paulo: Qualidade de Vida no Terceiro Milênio: Fatores Críticos de Gestão em Ambientes Presenciais, Remotos e Virtuais. Confira abaixo a entrevista feita pelo jornalista Guilherme Papa.
Ana Cristina Limongi-França -
“A tecnologia é um fator marcante na inovação e no avanço na gestão da qualidade de vida”.
Revista Digital AdNormas: Quando efetivamente começou a haver uma preocupação com a qualidade de vida no trabalho?
Ana Cristina: A preocupação de qualidade de vida no trabalho nas empresas remonta o próprio nascimento do trabalho. Se a gente for buscar em 1700, tem os estudos clássicos das doenças dos trabalhadores. Temos Bernardino, que é o pai da medicina do trabalho, ele fez a catalogação, já explicou os fatores de risco. Se a gente vem para a era da Revolução Industrial, a gente tem um momento dramático do início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial e depois a Segunda, de condição precária porque havia a pressão da produção em massa. Na década de 1940 já tinha alguns estudos sobre moral, motivação e relacionamento. No formato atual, a qualidade de vida no trabalho em termos internacionais, que caminhou junto com gestão de qualidade, estaria na 3ª ou 4ª geração. Ela começou a aparecer mais estruturada com a questão da segurança no trabalho, em 1950 e 1960. Como política quando começou a promoção de saúde, mais para a década de 1990, pensando em Brasil, que sempre está uns 10 anos atrasado em relação a outros países, embora tenhamos estudos pioneiros em relação a qualidade de vida. Qualidade de vida há esforço, há políticas nacionais q...