Publicado em 05 mar 2019

Inconveniências filosóficas do filme de arte

Redação

Os filmes mais parados são aqueles que, na falta de definição melhor, convencionou-se chamar de filmes de arte. Definição essencialmente tola uma vez que, se cinema é arte, como a música, a pintura e a literatura, todo e qualquer filme também o é.

Jurandir Renovato -

Sempre achei que o filósofo pré-socrático Zenão de Eleia devia ser o patrono do cinema. Pode parecer contraditório, afinal ele pregava o oposto do que o cinema mostra. Segundo Zenão, o movimento não existe. A trajetória de uma flecha lançada por um arqueiro, dizia ele, é composta de inúmeros pontos estáticos, ou seja, em cada trecho de seu percurso a flecha se mantém parada.

É o conjunto dessas estaticidades que cria a ilusão do movimento. Veja bem: a ilusão. E o cinema não é exatamente isso, uma ilusão de movimento criada a partir de imagens estáticas (os fotogramas) rodadas em alta velocidade?

 



Henri Bergson, já no início do século 20, percebeu essa conexão entre o cinematógrafo e os paradoxos de Zenão de Eleia, mas não ficou muito satisfeito com isso. Para ele o cinema só podia nos oferecer um simulacro de movimento, a reprodução de uma ilusão, ou – que seja – a cópia de uma cópia, como no mito da caverna, de outro grego ainda mais famoso. Vá entender os filósofos…

Talvez, no fundo, Bergson não tenha conseguido se deixar seduzir pela então novíssima invenção dos irmão...

Artigo atualizado em 27/09/2024 10:23.

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