Publicado em 07 abr 2020

A resiliência nas organizações em tempos de pandemia

Redação

A ISO 22316:2017 - Security and resilience — Organizational resilience — Principles and atributes define a resiliência organizacional como a capacidade de uma organização de resistir, absorver, recuperar e adaptar-se a interrupções que afetam sua atividade em um ambiente em constante mudança e cada vez mais complexo, para permitir que ela atinja seus objetivos, recupere e prosperar.

Odecio Branchini - 

Uma pesquisa constatou que, na França, a resiliência é incluída no planejamento estratégico de apenas 34% das empresas, o que significa estar longe (se não muito longe) de ser efetivamente integrada ao cotidiano das organizações. Isso é demonstrado pelo estudo realizado pela Adenium e pela EMLyon Business School no final de 2019, que analisou a gestão de riscos e a importância do estabelecimento da gestão de crises em uma organização, bem como o uso contínuo do PCA e da cultura de resiliência na cultura corporativa.

Nesta pesquisa, quase uma em cada cinco empresas admite ter sofrido uma crise nos últimos cinco anos, o que a levou a uma interrupção prolongada das atividades (mais de 48 horas) produtivas; e que para uma em cada cinco empresas, essa crise custou mais de dez milhões de euros contra pouco mais de um terço por menos de 100.000 euros.

Isso mostra a falta de resiliência das empresas. A verdade é que um quarto dos entrevistados não tem um plano de continuidade dos negócios (PCN), nem ações para a gestão de crises e menos da metade não dispõe de ferramentas de gestão de riscos. Este estudo, ainda que empírico, ganhou ainda mais significado nos últimos meses com a crise do coronavírus que está afetando fortemente a humanidade e a economia global.

Veja um resumo desta pesquisa: Relatório do estudo: barômetro de resiliência das organizações - 2020

Este relatório é o resultado de um estudo empírico com base em 148 respostas coletadas durante uma pesquisa por e-mail e telefone, com 4.707 contatos de empresas de mais de 500 pessoas da França que foi realizado pelos alunos do programa de Bacharelado (BBA) da Emlyon Business School e a Adenium Consulting Firm, especialista em PCA e resiliência, em torno da noção de resiliência nas empresas. O presente estudo responde às seguintes perguntas: como a noção de resiliência está incorporada na cultura corporativa; quais as ferramentas que as organizações usam para lidar com os riscos; e qual o futuro da noção de resiliência?

Apresentação dos resultados:

V. colocou em prática a gestão de riscos? S= 86% N= 14%

V. tem programas de gestão de crises? S= 73% N= 27%

V. adota o PDCA em sua organização? S= 75% N= 25%

V. (nos últimos cinco anos) teve alguma ocorrência que resultou em uma interrupção prolongada da atividade (por mais de 48 horas)? S= 20% N=80%

Além dos impactos relacionados à segurança de pessoas e bens ou à imagem, o estudo possibilitou medir o custo gerado pela interrupção de suas atividades.

< 10 mil de euros = 37,5%

de 500 mil a 1 milhão de euros = 31,3%

de 1 a 10 milhões de euros = 6,3%

> 10 milhões de euros = 18,8%

Ou seja, para quase 20% das empresas, esse evento resultou na perda de mais de 10 milhões de euros.

A comparação desses diferentes resultados mostra a importância de atualizar, analisar criticamente e manter ferramentas de resiliência em condições operacionais. Combinando esses diferentes elementos e garantindo sua manutenção em condições operacionais, podemos desenvolver uma resiliência organizacional eficaz nas empresas e, assim garantir: a segurança/proteção de bens e pessoas, o limite da ocorrência, o impacto dos eventos e as durações das interrupções, a redução dos altos custos decorrentes desses eventos e o desenvolvimento de uma cultura corporativa em torno da resiliência e a conscientização de todos os funcionários sobre ser resiliente.

Outro dado importante é que somente para 34% das empresas a resiliência organizacional é um dos seus objetivos estratégicos. Portanto, essa noção de resiliência é cada vez mais importante no contexto organizacional, desde a análise e tratamento dos riscos e da gestão de crises, e se observa que as organizações estão evoluindo neste sentido. Esse número reflete notadamente as notícias recentes em termos de gestão de crises e continuidade de negócios.

De fato, sejam os eventos nacionais (greve dos caminhoneiros, embates políticos, movimentos de grevistas em geral, tempestades  com enchentes, desmoronamentos, incêndios florestais, ruptura de barragens, casos de corrupção, grandes acidentes com consequências na saúde e segurança, e etc.) ou transnacionais (aquecimento global, ataques cibernéticos, epidemias, guerras, terrorismo e etc.), as organizações têm se visto cada vez mais confrontadas com os desafios da resiliência organizacional, esta é uma tendência já em desenvolvimento nas empresas que pretendem permanecer no mercado.

No mesmo sentido o surgimento de novas profissões voltadas para o tema resiliência comprova essa ancoragem cada vez mais significativa desse conceito nas estratégias e na organização dos negócios. Trata-se do gerente de riscos e gerente do plano de continuidade de negócios ou mais genericamente dos departamentos de gestão de crises, de gestão de riscos e de continuidade de negócios.

Algumas empresas, independentemente do seu tamanho ou campo de atividade, já estão incluindo estas atividades e funções em seus organogramas e em seus processos organizacionais. Xavier Hartout, presidente da Adenium e líder do grupo de especialistas em continuidade e resiliência de negócios da Afnor (Normalização Francesa), confirma esta tendência ao afirmar: em um mundo cada vez mais incerto, como o mostra o exemplo atual do coronavírus COVID-19, as organizações estão sob tensão local e globalmente, elas têm todo o interesse em integrar a resiliência ao seu modelo econômico, pois hoje não pode haver desempenho sem resiliência.

O importante e interessante é que, na França, um terço das empresas que responderam que consideram a resiliência organizacional é um dos seus objetivos estratégicos. Ficam agora as perguntas: e no Brasil? As empresas já têm esta preocupação? Estão interessadas em avaliar e tratar de temas como: gestão de riscos? gestão de crises? adoção de ferramentas de resiliência e de continuidade dos negócios em seus planejamentos estratégicos? Que lições podemos tirar da crise do corona vírus? A ABNT já traduziu a ISO 22316:2017?

Esse artigo foi compilado e adaptado do site: Parcous Croises - Comunidade de Qualidade, Meio Ambiente, Segurança da Afnor.

Odécio Branchini é diretor técnico da Qualitividade Treinamento e Consultoria - branchini@qualitividade.com.br

Artigo atualizado em 07/04/2020 05:46.

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