O rastreamento do câncer do colo do útero
Redação
O rastreamento organizado dessa doença é fundamental para a redução das iniquidades no acesso à saúde e para a efetividade das ações de controle do câncer de colo do útero. A implementação de programas de rastreamento que utilizem testes moleculares pode melhorar significativamente os resultados de saúde.

O rastreamento do câncer do colo do útero é uma prática essencial para a detecção precoce de lesões precursoras e do próprio câncer, visando reduzir a mortalidade e a incidência da doença. No Brasil, as diretrizes para esse rastreamento incluem a realização de exames citopatológicos e testes moleculares para a detecção do HPV oncogênico.
Estima-se que, entre 2023 e 2025, ocorram cerca de 17.010 novos casos por ano, com uma taxa de mortalidade de 4,79 por 100 mil mulheres. O câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre as mulheres no Brasil, com taxas de incidência mais altas nas regiões Norte e Nordeste.
A maioria dos diagnósticos ocorre em estágios avançados da doença, o que dificulta o tratamento e aumenta a mortalidade. Para o rastreamento, o exame citopatológico é recomendado para mulheres de 25 a 64 anos, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos.
O teste de DNA-HPV é considerado um método mais eficaz, com recomendações para sua utilização como teste primário de rastreamento. O modelo de rastreamento organizado envolve a convocação ativa da população-alvo, controle de seguimento e monitoramento da qualidade do cuidado, em contraste com o modelo oportunístico, que é menos eficaz.
Dessa forma, as mulheres com histórico de lesões precursoras devem continuar o rastreamento por até 25 anos após o tratamento. A vacinação contra o HPV é uma estratégia de prevenção primária importante, mas o rastreamento continua sendo essencial, especialmente para mulheres não vacinadas.
O rastreamento organizado é fundamental para a redução das iniquidades no acesso à saúde e para a efetividade das ações de controle do câncer de colo do útero. A implementação de programas de rastreamento que utilizem testes moleculares pode melhorar significativamente os resultados de saúde.
Conforme o MS-PCDT: Rastreamento do Câncer do Colo do Útero (Diretriz Brasileira) de 2025, como o rastreamento é uma atividade relacionada à detecção precoce de casos iniciais de câncer do colo do útero e suas lesões precursoras, todos assintomáticos, as recomendações não se aplicam a casos sintomáticos, que podem estar relacionados ao câncer avançado. Entre os sintomas comumente relatados e associados ao câncer de colo do útero encontram-se o sangramento vaginal anormal e o sangramento pós-coito não associados a distúrbios menstruais.
Assim, mulheres sintomáticas devem ser avaliadas para excluir a possibilidade de câncer avançado e, nessa suspeita, serem encaminhadas ao serviço especializado no diagnóstico dessa doença, independentemente do intervalo desde o último exame de rastreamento. O câncer de colo do útero representa grande desafio na área da saúde da mulher, impondo constante e adequada gestão das ações voltadas para o controle da doença.
No entanto, por suas características, o câncer de colo do útero apresenta alto potencial para o desenvolvimento de ações de controle por meio da prevenção primária (proteção específica: vacinação) e secundária (detecção precoce: rastreamento e diagnóstico precoce). A despeito da disponibilização da vacina contra HPV no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, o impacto na magnitude da doença ainda é discreto, pois a cobertura da vacinação ainda é baixa e seu efeito na incidência e mortalidade ocorrerá apenas a longo prazo, quando a coorte de mulheres vacinadas alcançar a faixa etária recomendada para o início do rastreamento, período em que o desenvolvimento do câncer e de suas lesões precursoras se torna mais provável.
Assim, o rastreamento persiste como estratégia essencial, pois as mulheres não vacinadas têm maior risco de desenvolvimento de câncer de colo do útero e dependem exclusivamente da detecção precoce. Contudo, o rastreamento no Brasil permanece no modelo oportunístico e centrado no exame citopatológico.