As diretrizes terapêuticas da hidradenite supurativa
Redação
A hidradenite supurativa, acne inversa ou doença de Verneuil é inflamatória, crônica e recorrente dos folículos pilosos. De causa multifatorial, é influenciada por fatores intrínsecos como predisposição genética, alteração hormonal, hipertensão, dislipidemias ou resposta inflamatória sistêmica exacerbada; e fatores extrínsecos relacionados com obesidade, tabagismo, diabetes, atrito mecânico e o uso de alguns medicamentos como lítio, anticonceptivos, isotretinoína, entre outros.

As diretrizes terapêuticas para a hidradenite supurativa (HS) são estabelecidas em um protocolo clínico que visa padronizar o diagnóstico, tratamento e acompanhamento da doença. A HS é uma condição inflamatória crônica que afeta os folículos pilosos, levando à formação de abscessos e fístulas.
O tratamento é multifacetado e pode incluir intervenções não medicamentosas, terapias tópicas, sistêmicas e biológicas. O tratamento não medicamentoso inclui a higienização com o uso de sabonetes neutros e antissépticos em caso de odor; a redução de trauma com o uso de roupas soltas e ventiladas, evitando materiais sintéticos e justos; os curativos co a utilização de curativos absorventes para manter a área seca e livre de odores e a incisão e drenagem que é indicada para abscessos flutuantes com dor significativa.
O tratamento medicamentoso pode ser feito com a clindamicina 1%, indicada para HS localizada em estágios de Hurley I ou para lesões superficiais em agudizações, por até 3 meses. A terapia sistêmica pode ser realizada com a tetraciclina, para HS leve, em dose de 500 mg duas vezes ao dia, por até 12 semanas.
A clindamicina e rifampicina pode ser usada para HS moderada a grave, com um esquema de 300 mg de cada medicamento, duas vezes ao dia, por 10 semanas. O tratamento biológico pode ser feito com o adalimumabe que é indicado para HS ativa moderada a grave que não respondeu a antibióticos.
O esquema posológico é de 160 mg inicialmente, seguido por 80 mg duas semanas depois e 40 mg semanalmente a partir da semana 29. A resposta ao tratamento é avaliada pela ferramenta hidradenitis suppurativa clinical response (HiSCR), que considera a redução de abscessos e nódulos inflamatórios. O tratamento deve ser individualizado, considerando a gravidade da doença e a resposta ao tratamento.
A monitorização de possíveis efeitos adversos e a resistência antimicrobiana são essenciais. Segundo o MS-PCDT: Hidradenite Supurativa, as lesões são originadas a partir de hiperqueratose e oclusão folicular, seguido de dilatação pilossebácea, ruptura e extrusão do conteúdo folicular, o que desencadeia reação inflamatória secundária e afluxo de células inflamatórias com liberação de novas citocinas o que torna o processo contínuo, com a formação de abscessos e fístulas. Dentre as citocinas mais frequentemente encontradas destacam-se TNFa IL-6, IL-10, IL-12, IL-23 e IL-17.
O papel bacteriano não está totalmente elucidado na patogênese da HS, contudo variedade de espécies bacterianas são isoladas nas lesões da HS. Demonstrou-se que o microbioma da lesão de pele lesional e perilesional da HS é diferente de controles saudáveis e a população de bactérias pode variar, conforme a gravidade da doença.
As fístulas e tratos sinusais contribuem para a formação do biofilme, colonização bacteriana e infecção secundária que são responsáveis pela exacerbação da doença, supuração e extensão das lesões. A HS se manifesta geralmente após a puberdade, durante a segunda ou terceira décadas de vida dos pacientes.
Apresenta-se com maior frequência em mulheres (3:1), acometendo principalmente as regiões axilar, da virilha, mamária e infra-mamária, com atenuação da atividade da doença com o início da menopausa. Nos homens afeta com maior frequência as regiões glútea, perianal, nuca e retroauricular, com maior atividade da doença até a quinta década de vida.
A recorrência das inflamações (2-3 nos últimos 6 meses) nesta doença pode acarretar em cicatrizes graves e consequentemente limitação ou incapacidade de movimento no local podendo variar de menor sensibilidade local e desconforto à incapacidade de se movimentar sem sentir dor, gerando grande impacto na qualidade de vida dos pacientes. Estes pacientes também podem apresentar odor fétido, infecções bacterianas, impactando diretamente na vida social dos pacientes.
A longo prazo, a HS está associada com complicações graves como fístulas na uretra, bexiga ou intestino reto, assim como artropatia, infecções como celulites, abscesso epidural, osteomielite sacral, obstrução linfática, linfedema, anemia, hipoproteinemia, amiloidoses, carcinoma celular escamoso, depressão e suicídio. Estudos sobre a incidência e prevalência da HS apresentam grande variabilidade apontando incerteza quanto à verdadeira frequência da HS.
A prevalência pode variar de 0,00033% a 4,1% e a incidência de 4 a 10 por 100.000 pessoas-ano, sendo mais frequente na população afro-americana e hispânica. No Brasil, estudo transversal realizado em 87 municípios, que representam 40% da população nacional, apontou prevalência de 0,41% (IC 95% 0,32 – 0,50), sem diferenças entre as regiões do país.
A idade média dos indivíduos foi de 40,4 anos, com maior prevalência entre adolescentes (0,57%) e adultos (0,47%) do que crianças e idosos. Houve uma ligeira predominância do sexo feminino.
Nesse estudo, a prevalência de acordo com a gravidade não foi avaliada. Em estudos de base populacional, a prevalência de HS em estágio I é maior de 50%.
Em estudos feitos em ambu ambulatórios de dermatologia, de hospital terciário, a prevalência de HS estágio III é abaixo de 30%. O diagnóstico é baseado na apresentação clínica da doença, que inclui lesões caraterísticas, em locais específicos e a recorrência de surtos definidos como fases de formação de nódulos intervaladas por um período de melhora.